Kabú

O jovem africano que ensinou aos seus mestres acerca do Espírito Santo

 

Kabú era oriundo da África, mais precisamente da tribo Kru. Ele era um puro africano. Também era filho de um rei, mas isto não quer dizer que a sua família era rica. Um rei naquela terra podia ser um homem que guiava a um pequeno grupo de famílias.

Quando ele ainda era muito pequeno, outra tribo africana fez guerra com a tribo de seu pai e esta outra tribo venceu. Levaram ao pequeno Kabú como prisioneiro. Os seus captores realmente não o queriam para fazer dele um escravo, mas antes, o fizeram um refém, com a esperança de que o seu pai ou outros parentes pagassem para libertá-lo. Nos anos posteriores, Kabú supôs que alguém havia pago o preço, (embora, sendo ele ainda muito pequeno, não podia certificar-se do que ocorria) pois, passando o tempo, foi restaurado a sua própria gente, permanecendo com ela até os onze anos. Nesta idade, foi sequestrado outra vez. Desta experiência ele podia lembrar-se muito bem, visto que já era maior um pouco.

Em certa ocasião, seu pai foi até os captores para resgatá-lo. Mas, não tinha o suficiente para cumprir com o seu propósito. O seu “dinheiro” consistia de marfim, goma e  outras coisas semelhantes, pois não se utilizava o dinheiro naquela terra assim como o conhecemos hoje. Além de oferecer estas coisas, o seu pai ofereceu dar a irmã de Kabú que  era mais jovem do que ele ─ em troca. Mas os seus captores não quiseram, pensando que um menino valia muito mais do que uma menina. Ao tomar conhecimento disto, Kabú exclamou a seu pai para não fazer tal coisa, dizendo-lhe que ele próprio era mais maduro do que ela, e poderia aguentar as dificuldades melhor do que a sua irmanzinha. Mas os dois reis não puderam chegar a um acordo, e Kabú foi deixado no cativeiro.

Depois, o dono de Kabú começou a abusar de Kabú muito  mais do que antes. Ele pensava que por agir assim, o pai de Kabú voltaria e pagaria o preço desejado, pois o captor  informou ao pai sobre os sofrimentos do filho. Numa conversação que ocorreu anos depois, Kabú comentou a respeito desta época da sua vida, dizendo:

Aquele homem tão cruel me açoitava cada dia sem motivo algum, e a cada dia o fazia com mais força.

Com o que te açoitava?

Com algo parecido a uma corda.

— E ele fazia você tirar a blusa para isto?

Oh, senhor Reade! — respondeu Kabú com um sorriso — Tirar a blusa? No meu país não tínhamos blusas, nem camisas, nem calças compridas!

Desta forma era Kabú açoitado sem compaixão pelo cruel homem, com o objetivo de poder conseguir um pouco daquilo que é material deste mundo passageiro. Mas um dia, os açoites chegaram a ser tão duros que Kabú já não podia aguentar mais. De repente, enquanto recebia um açoite, Kabú saiu correndo para a mata, sem saber para onde se dirigia. Mas, Deus ─ Que cuidou de Ismael quando a sua mãe o lançou sob uma árvore, abandonando-o para não ver o seu sofrimento ─ cuidou de Kabú também. Deus tinha uma obra para Kabú realizar, e, mais tarde, os seus sofrimentos se converteriam em bênçãos para outros. Assim...a senda da sua vida foi marcada desde o princípio.

Deus o guiou através da selva, de um lugar para o outro, até que chegou na costa. Não se sabe o quão longe Kabú havia viajado, tampouco ele mesmo o soube. Sabia somente que levou muitos dias, e que havia muitos perigos pelo caminho.

Kabú era um pagão, e não sabia nada a respeito do Deus  verdadeiro. Contudo, o Deus que cuida das aves providenciou a sua comida, e o Poder que guiou os magos a Belém, guiou a este pobre menino para a costa e depois ao próprio Cristo. Depois de chegar na costa, começou a trabalhar numa plantação de café, recebendo como pagamento, comida e alguma roupa.

Mas Deus estava mostrando a Sua misericórdia a Kabú, mesmo sendo muito provável que ele não reconhecesse isto naquela ocasião. Havia outro jovem que trabalhava na mesma plantação, que havia se convertido a Cristo. Este jovem falou da sua fé a Kabú, e o levou a um culto da sua igreja ─  apesar de que Kabú não podia entender nem sequer uma só  palavra na igreja (pois ainda não sabia o idioma inglês), e não podia compreender o que era a igreja, a Bíblia e a pregação. Anos depois, Kabú testificava que sentiu a presença de Deus naquele lugar. Enquanto ele estava ali, reconheceu a sua perdição e a sua pecaminosidade. Desta forma  saiu daquele culto ─ o seu primeiro ─ com um  coração ansioso e uma mente desejosa. Sem saber, era como o estudioso eunuco Etíope, que necessitava de um Filipe para que o guiasse.

Depois de escutar o seu amigo orar, Kabú perguntou-lhe o que estava fazendo. O seu companheiro lhe disse que falava com Deus.

— E, quem é Deus? — continuou perguntando Kabú.

— É o meu Pai — disse-lhe o seu amigo.

Então — argumentou Kabú —, está falando a teu  Pai.

A partir deste momento, Kabú sempre chama a oração “falar ao Pai”. E, ao sentir a convicção do pecado naquele  culto, ele, também, começou a “falar ao Pai”. A convicção que sentiu não foi a do tipo que é tão comum hoje: foi  forte e constante, tanto... que foi impulsionado a “falar ao  Pai” em voz alta, em horas “fora de tempo”, segundo pensaram alguns. As vezes os seus gritos eram ouvidos a meia-noite. Por fim, os que trabalhavam com ele o declararam que ele os perturbava e lhe disseram que se não pudesse ficar em silêncio então que teria que sair do quarto. Então, saiu para a mata ─ noite após noite ─ para continuar a sua luta, assim como Jacó em Peniel.

Certa noite, permaneceu na mata até muito tarde, e por fim voltou para o seu humilde quarto para dormir, já todo cansado e afligido. Mas ele não podia dormir. Ainda que a sua língua ficasse em silêncio, mas o seu coração continuava orando até que, de repente... o seu quarto pareceu iluminar-se! A princípio, Kabú pensou que era o amanhecer, mas todos os outros continuavam dormindo. A  luz iluminava mais e mais, até que o quarto se encheu da glória de Deus. Por sua vez, o peso do seu coração desapareceu e em seu lugar reinou grande paz. Ele sentiu o seu corpo tão leve como uma pluma, tanto... que Kabú pensou que poderia voar!

Tanta glória não podia ser contida. Kabú começou a louvar e a saltar como o homem que foi curado na porta Formosa (Atos 3:8). Em seguida, todos os que estavam no quarto despertaram e não puderam dormir pelo resto daquela noite, mas muitos creram que Kabú havia enlouquecido.

Assim foi a sua conversão: simples, definitiva e poderosa. Normalmente, Kabú não era muito emotivo nem muito aberto: Ao contrário, ele era considerado como uma pessoa muito calma. Mas quando falava da sua conversão, os seus  olhos reluziam como o fogo e todo o seu corpo tremia de  emoção. A sua aparência era a de um poeta quando cantava:

 

Oh, momento sagrado!

Oh, sacrossanto lugar!

Não importa o que me aconteça,

Meu coração sempre pensará em ti.

E quando me levantar para ir,

Acima no meu lar celestial,

Olharei uma vez mais,

Ao lugar onde fui perdoado.

Não se sabe por quanto tempo ele ficou trabalhando naquela plantação de café. Somente se sabe que foi  suficiente para aprender o inglês, e para aprender a ler e a escrever um pouco. Enquanto trabalhava ali, uma missionária apelidou-o de ‘Samuel Morris’. E, por este  nome o conhecia a maioria dos que falavam este idioma. Além de ensinar-lhe a ler e a escrever, a mesma mulher  ensinou-lhe o básico do evangelho.

Com o passar do tempo, deixou a plantação de café e se mudou para um povoado, onde aprendeu a pintar casas. Em tal ocupação trabalhou por alguns anos. Mas, em seu coração, sentiu um crescente desejo de pregar para a sua  própria gente a respeito do bendito Salvador que havia lhe  dado tão gloriosa salvação. Foi assim que um dia visitou a  um missionário, e compartilhou com ele o que sentia em seu coração ─ sobre o desejo em seu coração de pregar para a sua própria gente.

O que ocorreu causa grande tristeza, sendo que o mesmo ainda ocorre muitas vezes. Aquele missionário disse a Kabú que para poder pregar o evangelho, necessitava educar-se. E, para educar-se, teria que ir aos Estados Unidos. Além disso, para ir aos Estados Unidos, lhe custaria US$100.00. [Hoje em dia, poderia ser uns US$1000.00: uma grande quantia para um jovem tão pobre.]

Que conselho errado! Mas tal atitude é muito comum, isto é, a idéia de que um homem tenha a necessidade de estudar numa universidade ou num seminário para poder pregar. A Bíblia não ensina tal coisa. Na verdade, muitos dos apóstolos eram homens pobres e sem estudo: exatamente como Kabú!

Mas apesar de receber um conselho equivocado, Deus o  usou. Deus na Sua grande sabedoria e misericórdia, permitiu que Kabú seguisse tal conselho... para demonstrar quão errado o mesmo realmente era!

Ao receber este conselho, Kabú se retirou para a mata  ─  o lugar que usava para conversar com o seu Pai ─ para falar-lhe a respeito da situação. Ele orou desta maneira:

Agora, Pai meu... Tu me chamou para pregar para a minha própria gente. Mas, o missionário disse que não posso pregar sem ser educado, e para educar-me, tenho que ir para os Estados Unidos. Pai meu, Tu sabes que não tenho nem sequer um centavo. Agora, por favor, abra-me o  caminho.

A partir daquela oração em diante, Kabú sempre acreditou que Deus já havia determinado que o caminho fosse aberto. Desta maneira, estava esperando que viesse  uma embarcação que o levaria até o país tão distante de seu lar.

Durante este tempo, houve uma jovem missionária que havia chegado dos JUL. para trabalhar na África. Esta jovem havia nascido do Espírito Santo e havia aprendido a diariamente andar debaixo da Presença Divina. Seus co-missionários pensavam que ela não poderia conseguir nada no seu campo de trabalho, visto que, muitas vezes, ela preferia estar sozinha. Mas, parece que ela estava desfrutando da íntima comunhão com o Pai.

Quando Kabú escutou a respeito da chegada dela, caminhou muitos quilometros para visitá-la. Cheia do  Espírito Santo, ela ficou muito alegre, compartilhando com Kabú sobre o que experimentava. Não se sabe se era por falta de ensino acerca do Espírito Santo ou não, mas Kabú  sentiu um grande desejo de saber mais sobre Ele. Ele visitou e escutou a missionária várias vezes para aprender mais, mas, por fim, ela, cansada pelas muitas perguntas de Kabú, disse-lhe que se desejasse saber mais, teria que perguntar a Estevam Merritt, pois este homem havia ensinado a ela tudo o que ela sabia acerca do Espírito Santo.

Ao escutar este conselho, Kabú lhe disse:

Então, irei. Aonde ele vive?

Em Nova York — respondeu ela sorrindo.

Outra vez percebe-se que deram a Kabú outro conselho errado. Por que não o aconselharam a procurar na Bíblia ou que se valesse da oração?

Contudo, a missionária não viu a Kabú outra vez: ele já  havia empreendido a sua viagem aos Estados Unidos! Ele  viajou muitos quilometros, até que por fim viu uma embarcação, e logo um barquinho desceu com alguns marinheiros. Kabú se aproximou do capitão e lhe pediu que o levasse para Nova York. Com maldições e maus-tratos ... foi-lhe negado. Mas, Kabú tinha a plena segurança que era a vontade de Deus que ainda fosse. Depois de receber uma resposta negativa na sua segunda tentativa, dormiu na areia da praia nesta noite.

Na manhã seguinte, Kabú pediu pela terceira vez que o  levassem a Nova York.

O capitão lhe perguntou:

Em que podes trabalhar?

Em qualquer coisa — respondeu Kabú.

O capitão pensou que isso queria dizer que Kabú sabia fazer qualquer trabalho de um navio, mas, realmente, o que Kabú queria dizer era que estava disposto a fazer qualquer tipo de trabalho. E, visto que dois marinheiros recentemente  haviam abandonado as suas posições, o capitão mandou que Kabú entrasse no navio.

— E, o que deseja? — perguntou o capitão, referindo-se ao salário de Kabú.

Quero ver a Estevam Merritt — explicou Kabú.

Dessa forma, Kabú começou a sua viagem pelo mar, não  sabendo nada sobre navios e nem sobre o mar. No terceiro dia, Kabú encontrou-se com outra prova: o enjôo. Mas, outra vez, a fé dele venceu. Ele se ajoelhou e orou, dizendo ao Pai:

Pai, Tu sabes que prometi trabalhar para o capitão todos os dias até que cheguemos a América. Mas não poderei se estiver doente. Retire de mim, então, esta enfermidade. — E, daquele momento em diante, sempre esteve bem e pôde cumprir com os seus quefazeres.

A sua ignorância lhe causou muitos sofrimentos ─ ele foi golpeado, malfalado e maltratado muito. Mas, a sua paz era como um rio, a sua confiança era grande e a sua segurança era doce. Tanto...que o capitão convenceu-se de seu pecado e se converteu! E, o fogo do avivamento correu pelo navio, até que a metade dos marinheiros também se entregaram a Cristo!

Ao chegar a Nova York, os marinheiros deram-lhe roupas (pois começou a viagem com muito pouca roupa e sem sapatos) e o despediram. Kabú desceu do navio e se aproximou do primeiro homem que viu; um transeunte.

— Onde está Estevam Merritt? — Kabú perguntou-lhe.

Deus estava guiando a Kabú, porque Estevam Merritt vivia na outra parte da grande cidade ─ a uns 5 ou 6 quilometros deste lugar. No entanto, o homem lhe respondeu:

— Eu o conheço; ele mora na Oitava Avenida, do outro lado da cidade. Guiarei você até lá se me pagar um dólar.

Vamos — disse Kabú; apesar de que  não tinha  nem sequer um  centavo.

Ao chegar ao lar de Estevam, este estava saindo de   sua casa para ir ao culto.

Ali está — disse o guia. Kabú  se  aproximou de Estavam e lhe perguntou:

— Você é Estevam Merritt?

Sim — respondeu Estevam.

Meu nome é Samuel Morris ─ Kabú usou o seu nome inglês da América ─ Acabo de chegar da África para falar com você a respeito do Espírito Santo.

Muito bem — disse Estevam — vou ao culto de oração na rua Jane. Entre na missão aí na próxima porta. Quando eu voltar, prepararei para você o teu alojamento.

Estevam pagou ao guia e foi para o culto. Kabú entrou na  missão. Ao voltar para a sua casa, as dez e meia da noite, Estevam se lembrou de Kabú. Apressou-se em direção a missão para preparar-lhe o seu alojamento. Mas, ao entrar pela porta da missão, o que viu? Kabú já tinha 17 homens ajoelhados ao redor dele! Ele os havia guiado a Jesus, e  todos estavam regozijando-se em Seu perdão. Depois, Estevam testemunhou que ele nunca havia visto tal coisa em toda a sua vida. O Espírito Santo havia operado por meio de um pobre jovem africano, que não tinha muita educação e nem tinha “cultura”. No entanto, ficou claro que o poder do Espírito Santo morava nele.

Kabú havia chegado a Nova York numa sexta-feira. Dois dias depois, no domingo, Estevam convidou a Kabú a acompanhá-lo na Escola Dominical. Kabú nunca havia visitado uma Escola Dominical, mas consentiu em ir. Assim, Estevam introduziu a Kabú como alguem que havia chegado da África para escutar acerca do Espírito Santo. Muitos dos que estavam ali riram ao escutar isto. Não obstante, Estevam deu a Kabú a oportunidade de falar.

Estevam nunca soube o que Kabú disse, pois ele teve que  atender a outra situação enquanto Kabú falava. Mas ao  regressar outra vez, Estevam se maravilhou: muitos jovens haviam se aproximado ao “altar”, chorando! A presença e o poder do Espírito Santo haviam enchido o lugar.

Alguns dias depois, Estevam teve que ir a outra parte da  cidade para oficiar um funeral. Ele convidou a Kabú para  que o assistisse, dizendo-lhe:

Samuel, quero mostrar-te algo da nossa cidade e do Parque Central.

Kabú nunca havia entrado em um carro puxado por cavalos, e a sua ignorância sobre tais coisas quase fez com que Estevam sorrisse. Passaram pelas ruas e por fim chegaram na Grande Ópera. Estevam mostrou-a a Kabú e começou a lhe explicar sobre ela. De repente, Kabú lhe perguntou:

Estevam Merritt, você ora as vezes em um carro?

Sim — respondeu Estevam — muitas vezes tenho sido abençoado enquanto viajava no carro.

Ao receber esta resposta, Kabú pôs a sua mão sobre a mão de Estevam, guiou-o para que se ajoelhasse e disse:

Vamos orar.

Esta era a primeira vez que Estevam havia se ajoelhado em um carro para orar. Kabú falou ao Espírito Santo dizendo-lhe que ele havia vindo da África para falar com  Estevam acerca dEle, mas que Estevam sempre falava de  outras coisas, e, que, além disso, queria mostrar-lhe a igreja, a cidade e as pessoas; e que, enquanto isto,  ele tinha grandes desejos de escutar e aprender acerca do Espírito Santo. Kabú continuou orando, pedindo que o Espírito Santo tirasse do coração de Estevam todas estas coisas e que o enchesse muito de Si Mesmo... de modo que Estevam não escrevesse, pregasse e nem falasse de outra coisa a não ser somente do Espírito Santo.

Sobre aquele dia, Estevam escreveu depois: “Realmente, havia três pessoas no carro neste dia. Nunca conheci outro dia igual; fomos cheios do Espírito Santo, e Ele fez de Kabú o canal pelo qual eu fui instruido e capacitado mais do que nunca. Muitos bispos colocaram as suas mãos sobre mim várias vezes e até fui ordenado pelos anciãos da igreja: mas estes eventos não podem ser comparados com o poder que me sobreveio quando Kabú orava. Santiago Caughey pôs as suas santas mãos sobre a cabeça de Tomás Harrison e sobre a minha, orando para que o Espírito de Elías caísse sobre nós, os Eliseus: E, sim, o fogo caiu e o poder veio. Não obstante, recebi poder permanente no carro, ao lado de Kabú. Desde então, não tenho escrito nem falado nem sequer uma palavra, senão por e no Espírito Santo. Kabú foi um instrumento nas mãos do Espírito Santo para o meu  crescimento e desenvolvimento nas extraordinárias coisas de Deus. Kabú foi a Fort Wayne, Indiana, e alvoroçou a Universidade dali (Atos 17:6). Ele viveu e morreu no Espírito Santo, após terminar a sua obra. E, visto que um homem ou mulher ungidos nunca morrem, a vida de Kabú continua dando testemunho hoje em dia. Enquanto eu viver, as memórias dele nunca morrerão. Para mim, esse humilde jovem era uma maravilha ─ um milagre da graça de Deus. Aprendi a amá-lo como a um irmão, e dele aprendi lições de fé e de consagração, as quais eu nunca antes conheci.”

Então podemos ver que Kabú, aquele jovem africano, ensinou ao seu mestre Estevam Merritt ─ que era reconhecido por muitos como um homem muito espiritual ─ acerca do Espírito Santo.

Alguns dos jovens da Escola Dominical haviam formado uma sociedade missionária chamada “Sociedade Missionária Samuel Morris”. Planejaram prover todas as necessidades de Kabú até que ele entrasse na universidade, se esta provesse uma educação gratuita a Kabú. Desta forma, Estevam Merritt escreveu uma carta a Universidade, pedindo o mesmo. Apesar de que a Universidade havia sido formada recentemente e tinha uma grande dívida, foram  dadas as boas vindas a Kabú. E, no mês de dezembro, chegou a Fort Wayne, Indiana para começar os seus estudos.

Imediatamente, Kabú tornou-se uma curiosidade para os outros estudantes. Não sabia comer muitas das comidas americanas e tinha que aprender os costumes e a cultura de seu novo lar. Além disso, havia coisas estranhas para ele, como a neve; tal coisa nunca é vista na sua terra nativa tão quente!

Mas, repentinamente, por meio da sua vida consagrada, foi aceito como um filho de Deus. No relato seguinte, pode-se ver um exemplo de como pôde ganhar o respeito de seus novos amigos. Ao entrar para a universidade, um dos mestres perguntou-lhe:

Samuel, qual dos quartos deseja usar como dormitório?

— Oh, Senhor Reade — respondeu Kabú — qualquer quarto estará bem para mim. Se houver um quarto que ninguém quer, dê-me este.

Ao escutar esta resposta... o mestre teve que chorar. Depois deu testemunho de que, em todos os seus anos como mestre nessa universidade, havia perguntado a mais de mil estudantes cristãos sobre qual quarto preferiam; mas Kabú foi o único que respondeu que queria o quarto que ninguém quisesse.

Outra vez, Kabú ensinou a seu mestre acerca do Espírito Santo.

Apesar da sua incapacidade de falar bem o idioma inglês, as vezes pregou na igreja. A sua maneira simples, quieta, natural e eficaz de falar cativou a audiência. Mas as suas “conversas com seu Pai” foram as que ganharam o respeito de seus co-estudantes e mestres. Enquanto outros dormiam, Kabú orava: nas manhãs, a meia-noite; onde e quando queria. Tão absorto ficava em suas orações, que, as vezes, muitos entravam para ver a cena, mas Kabú não percebia. Se escutasse um toque na porta enquanto orava, continuava orando até terminar a sua conversa com seu Pai. Depois, com um sorriso, abria a porta ao visitante, dizendo-lhe:

Entre. Já terminei de falar com meu Pai, por enquanto.

Além de ser amante da oração, Kabú se converteu em um  amante da Palavra, apesar de que a leitura era difícil para ele. No entanto, quando tinha a oportunidade, fazia a leitura, ou, se alguém estivesse visitando-o, lhe pedia que fizesse a leitura de um capítulo. Para Kabú, a Bíblia era outro meio de escutar a voz de seu Pai.

Kabú gostava de viver nos Estados Unidos. Mas o seu desejo era voltar para o seu próprio país para pregar para a sua própria gente. O seu amor a Cristo era mais forte do que o amor a comodidade. Contudo, o desejo de Kabú nunca se tornou realidade. O forte frio de Indiana, com temperaturas de 20 graus abaixo de zero, era demasiado para o seu corpo africano, e no mês de janeiro do ano de 1893, sofreu um forte resfriado. Durante os meses seguintes, pôde estudar, mas não pôde vencer a enfermidade por completo.

Pouco a pouco, o seu corpo foi perdendo as forças. Kabú soube que o seu fim se aproximava; mas dele não se escutou nem sequer uma queixa. Quando lhe perguntaram de seu desejo de voltar ao seu país para pregar, disse:

Outros podem fazer a obra melhor do que eu. Não é a minha obra, é de Cristo; Ele tem que escolher a seus próprios obreiros.

Vendo que a sua morte estava muito próxima, perguntaram-lhe se temia a morte. Kabú sorriu e respondeu:

— Oh não, Senhor Reade. Depois que eu conheci a Jesus, a morte se converteu em minha amiga.

Depois, Kabú passou para a eternidade num dia do mês de maio do ano de 1893.

O seu funeral foi presenciado por centenas de pessoas, e  muitos homens fortes choraram sem ter vergonha alguma. Por quê? Não era Kabú somente um pobre jovem africano?

Sim, Kabú era somente um pobre jovem africano. Mas esse jovem sem educação, sem dinheiro e sem criação cristã  tinha algo que muitos ─ seus mestres, inclusive ─ não tinham: uma íntima relação com o Deus Vivente. Kabú falava com Deus, e Deus com ele. Kabú caminhava com Deus.

Pouco depois da sua morte, durante uma reunião, várias pessoas estavam compartilhando de como a vida de Kabú havia afetado as suas vidas. De repente, um jovem  se colocou de pé e disse que sentia que Deus o estava chamando para ir a África para pregar para o povo de Kabú, no lugar dele. Quando este jovem se sentou, outro se colocou de pé e disse o mesmo. E, ao sentar-se o segundo, o  terceiro jovem se colocou de pé e proclamou que ele também  sentia o chamado de Deus. Assim, os três jovens começaram a preparar-se para ir para a África no lugar de Kabú.

O segredo da vida de Kabú está na sua consagração, humildade e fé. Deus é o mesmo hoje em dia. Deus não está buscando a educação, a riqueza, a sabedoria humana nem a  personalidade atrativa; Ele busca uma entrega total e uma fé simples. Qualquer um que se render a Ele, receberá o mesmo que Kabú recebeu: o derramamento do Espírito Santo na sua alma.